5.6.13

Solano Trindade e Dandara


Dandara em:
Poesia negra do povo

Outro dia descobri um poeta que, além de escrever textos lindos, ainda consegue fazer a gente refletir sobre um montão de coisas superlegais. O nome dele é Solano Trindade. Incrível, ele foi um artista completo! Ator, teatrólogo, pintor, folclorista e um grande herói da resistência negra, Solano fundou, em 1936, a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-Brasileiro, pra divulgação dos intelectuais e artistas negros da época. Não é um barato? Em 1934, participou do I e do II Congressos Afro-Brasileiros, em Recife e em Salvador. Ele morou também em Belo Horizonte; depois foi pro Rio Grande do Sul; e, em Pelotas, criou, com a ajuda do poeta Balduíno de Oliveira, um grupo de arte popular bacanérrimo. E, por lá, difundiu lindos poemas afro-brasileiros.

Solano era Pernambucano. Nasceu em 24 de julho de 1908 no bairro de São José, no Recife. Seus últimos dias ele passou no Rio de janeiro. Despediu-se da gente no dia 19 de fevereiro de 1974. Chiii... eu nem era nascida. Mas o importante é que hoje crianças, feito eu, podem conhecer sua arte e se encantar com seus versos fortes e bonitos, como estes aqui:

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina 
correndo, correndo
parece dizer...


Tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome.

Piiiii...

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr ...

Tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome.

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá.

Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer...

Tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome.

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar.

Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer...


Tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome.

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer.

Se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer.

Mas o freio do ar todo autoritário
manda o trem calar.


Psiuuuuuuuuuu.


Solano tinha razão. Tem tanta gente com fome, fome de tudo, se quer saber! Fome de escola de boa qualidade, fome de emprego digno, fome de saúde, fome de respeito, fome de justiça social, fome de igualdade de direitos. Sem contar a fome de carinho, a fome de amor, a fome de honestidade e a fome de paz. Nunca vou me esquecer do apito desse trem: “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome...”.
Aproveite e leia os outros microcontos da Dandara: 
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pedro antônio de oliveira