30.12.18

A esperança é um ato de resistência. Resista

Foto: Tom Schneider/Efe

Você que de quando em vez chora à noitinha, na solidão da alcova. Você que se arrebenta no cumprimento das obrigações. Que perde um tempo danado desviando das dificuldades de todo dia.

Você que tem medo do arrependimento um minuto depois de tomar uma decisão. Você que esconde seu pavor de morrer só, de não ter onde cair morto, de lhe faltar um gato para puxar pelo rabo.

Você que ainda tem avós mas que pouco os vê. Que tem saudade da infância, que sente culpa por não telefonar mais seguido a seus pais. Você que já não tem pais e nem avós e quase só usa o telefone para pedir comida e responder que não, não quer assinar jornal nenhum.

Você que tem uma inveja inofensiva das pessoas que demonstram afeto. Você que queria ter mais irmãos, você que tem irmãos distantes, você que não tem irmão nenhum.

Você que ainda corta a carne no prato do filho ou da filha. Que tem criança pequena e conhece o medo doloroso de lhe faltar.

Você que se deu conta de que nunca será um astronauta, um campeão olímpico, um astro do rock. Que acha superficial e cínico quem defende que não se deve dar esmolas, quando a quem pede esmolas nada se faz para ajudá-lo a seguir outro caminho.

Você que olhou nos olhos de um mendigo e sentiu um calafrio em algum lugar insuspeitado da alma.

Você que sentiu culpa por estar ocupado demais para ouvir um amigo quando ele mais honestamente precisou falar.

Você que já passou horas deitado no sofá de barriga para baixo, cutucando com a unha a sujeira leve que pousa e se instala impertinente nas ranhuras do chão. Você que enxerga rostos nos desenhos dos ladrilhos. Que observou a poeira flutuando contra a luz do sol e lembrou de um amor antigo. Você que não sabe lidar com um amor novo.

Você que, no mais das vezes, das conversas do dia a dia não ouve nada senão relinchos, cacarejos e conversas para boi dormir entupidas de preconceito e burrice.

Você que já se perguntou onde repousam as borboletas, enquanto imaginava sua vida secreta, e esse foi seu único instante de paz no dia confuso. Você que descobriu espantado que as baratas, quando esmagadas pelo chinelo da gente, liberam ovos que se transformarão em novas baratas que sobreviverão à hecatombe nuclear.

Você que já pediu a Deus um tempo para viajar a um lugar distante e ver o sol nascer de outro canto, na tentativa honesta de lavar com sabão e esponja a sua alma cheia de borras e sentimentos esverdeados, envelhecidos. Depois estendê-la no varal de um dia inteiro e deixá-la ali secando ao sol.

Você que já teve a impressão de que, se não fizer alguma coisa, a vida periga se transformar em um eterno domingo à noite.

Você…

Seja bem-vindo. Bem-vinda. Dá cá um abraço. Viver dói e se dói é porque você vive. Resista, deixe estar.

E acredite: para cada angústia há uma desforra gloriosa, esperando sua vez de vir ao mundo.

André J. Gomes

Fonte: Revista Bula

29.12.18

Um abraço


Tenho sorte de ter olho para o encanto. De ver imagens nos estuques das paredes do muro. De ver o portal que dá lugar para minhas emoções esparramadas na grama verde e de poder viver o lambeijo dos meus cães quando deito no chão. De enxergar coração em tudo que é coisa. 

Tenho sorte porque lá fora, para além dos instantes de encanto, o mundo está de ponta-cabeça e não sei se você gostaria de vê-lo como se apresenta hoje. Talvez, aqui, no meu lugar seja um daqueles achadouros que você criava em seu mundo. 

O meu quintal é desabitado de realidade e levo ele na bolsa sempre que saio calçadas afora para viver o mundo real e lá, quando o baque vem em grau maior, eu retiro um pequeno bocado para sobreviver. 

O mundo está moderno demais e atravessado. Então, eu busco como escape essa inteireza de criança que meu pai ainda acha que sou e com isso tento dar verbo às coisas que me rodeiam e, bem ali, no cantinho do espaço imaginário, perto das lanternas chinesas, eu te abraço e agradeço pela inspiração que me ofereceu diante da palavra e, tentando entender a cor dos pássaros, faço o verbo esperançar renascer cada vez mais dentro de mim.

Mariana Gouveia

23.12.18

Noite feliz, noite de luz

Ilustração: Son Salvador

Os brilhos de dezembro se multiplicavam em cada vitrine. Luzes coloridas alegravam as ruas. Árvores de Natal disputavam entre si qual delas chamava mais a atenção. Àquela hora da noite, apesar da chuva que ameaçava cair, ainda era possível avistar pessoas caminhando apressadas com enormes embrulhos nas mãos.

Em incontáveis lares da cidade, pratos saborosos deviam estar sendo preparados, enquanto tudo, aos poucos, tentava se acalmar. A fúria das compras e o tromba-tromba nas esquinas iam dando lugar ao silêncio e a um desejo natalino de repouso e paz.

Foi então que um aguaceiro desabou sobre a metrópole. De repente, uma pesada cortina de chuva escondeu cada pisca-pisca, cada enfeite, envolvendo em seus braços molhados os prédios, os carros e as estrelas que pontilhavam o céu.

Debaixo do viaduto de uma imensa avenida, nenhuma luz colorida, nenhuma bola reluzente, nenhum pinheiro luzindo. Naquele lugar, não havia indício algum de Natal. Ao lado do amontoado de caixas de papelão, um enorme rio se formava por causa da enxurrada. Goteiras tilintavam dentro de algumas panelas vazias. Música de sino?

Diante da cidade encharcada e ocupada em festejos, um vibrante choro de criança vencia o barulho dos trovões e os clarões da tempestade. Mas essa mesma cidade, naquele instante, não sabia e nem podia ouvir nada.

No abrigo feito de papelão, nascia um menino, que talvez se chamasse Jesus da Silva, filho do José Romeiro da Silva e da Maria da Anunciação Silva, catadores de papel, caçadores de sonhos.

Nascia, sim, o Jesus da enorme cidade. Mais um Jesus sem presentes, sem árvores com luzes piscando ao seu redor, sem o perfume das deliciosas comidas. Era Natal e muitos na cidade nem sonhavam. A chuva ocultou o Jesus do viaduto e tantos outros mistérios daquela noite.

Mesmo sem um coral de anjos a entoar canções natalinas, mesmo sem uma estrela a guiar o futuro, para José, para Maria e para Jesus, era noite feliz.

Pedro Antônio de Oliveira

Conto originalmente publicado no jornal Diário da Tarde, em 23 de dezembro de 2000 

20.12.18

Sempre-viva

Foto: Eco Vida
sempre-triste
no seu jeito interiorano
tingida de fúcsia
e turquesa
diz que é tinta
diz que desde sempre era
tudo tudo tudo tinta
e o corpo diamantino
é palha seca

Angela-Lago

Foto: Folha Uol
Este poema lindo faz parte do livro "O caderno do jardineiro", Edições SM, da escritora e ilustradora Angela-Lago. Mineira de Belo Horizonte (minha terra querida), a autora nos deixou em 21 de outubro de 2017. Na ocasião, eu estava de férias em Fortaleza (CE), sol, calor, alegria... mas, de repente, fiquei triste, muito triste com a notícia. Sempre admirei a Angela por sua elegância ao esculpir as palavras e tocar nosso coração como a regente de uma orquestra de luzes. Nas estrelas, no infinito, nos confins do céu... de onde ela estiver, que continue nos inspirando com sua arte e sensibilidade.
Angela, de fato um ser humano especial.

Um beijo, Angel!

Pedro Antônio de Oliveira

SABOREIE ALGUMAS ENTREVISTAS DE ANGELA-LAGO


15.12.18

Fonte dos desejos


Lucinha quer ser fada.
Bailar na ponta dos pés,
se empinar esguia sobre uma nuvem,
deixar o vento conduzir seus passos
para longe de tudo.

Ser fada é uma coisa tão boa.
É quase, quase ser uma bailarina,
um facho de sol
furando a copa das árvores,
uma nota musical colorindo o silêncio,
um abraço no escuro,
iluminando a solidão.

Lucinha quer ser fada
só para visitar as estrelas
onde moram seus anjos preferidos,
também a vó Candy e seus bolinhos de chuva,
também o vô Olinto e seu acordeon multialegria.

Lucinha quer ser fada e voar de noite sobre a cidade,
acordar os desejos esquecidos,
curar a saudade e remendar os corações partidos
com afeto e sonho.

Pedro Antônio de Oliveira

12.12.18

O que importa


E eu paro e fico rindo, se é você.
Que mágica é essa que espanta toda a dor de viver?

Pedro Antônio de Oliveira

Para sempre


Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. 
Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. 
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. 

Cora Coralina

3.11.18

Projeto Tamar e a proteção das tartarugas marinhas

Foto: Instagram Luan Loureiro
O projeto Tamar foi criado na década de 1970 pelas mãos de um grupo de estudantes de oceanografia que viajavam para praias desertas a fim de realizar pesquisas. Na ocasião, os pesquisadores descobriram que muitos pescadores matavam as tartarugas marinhas. Daí, o Tamar surgiu para proteger esses preciosos animais que corriam risco de extinção.

As ações estão presentes nos litorais das regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. Somente no estado de Sergipe, são quatro bases: em Ponta dos Mangues, Pirambu, Aracaju e Abaís.

Divulgação portal projeto Tamar

Em Aracaju, o Oceanário abriga cerca de 70 espécies aquáticas nativas de Sergipe expostas em 18 aquários (cinco de água doce e 13 de água salgada), inclusive as tartarugas. Estive lá no mês de outubro e tive o prazer de conhecer os trabalhos realizados pelo projeto Tamar. Em 2018, os especialistas comemoraram a marca de 35 milhões de filhotes livres rumo ao oceano a partir dos cuidados das equipes daquele estado. Pirambu (SE) foi a primeira base do Tamar instalada no Brasil, em 1982.

Segundo o estudante de medicina veterinária Luan Loureiro, em cada mil filhotes de tartaruga, estima-se que apenas um, no máximo dois, atinja a idade adulta. "Por isso é tão importante respeitar os locais de desova desses bichos na praia, evitando pisar nas regiões demarcadas na areia, além de jamais sacrificar um animal", destaca o integrante do projeto em Sergipe. "Nosso esforço diário é recompensado toda vez que assistimos ao espetáculo do nascimento de uma tartaruguinha e sua caminhada em direção ao mar", comemora.

Luan lembra que todo mundo pode ajudar o Tamar, seja divulgando as iniciativas, adquirindo algum produto da marca (já que a renda das vendas auxilia na sustentação do projeto), seja respeitando os santuários das tartarugas, procurando viver em harmonia com o meio ambiente. "Nós, que acreditamos no Tamar, nos inspiramos nos próprios filhotes de tartaruga que, a cada novo começo, parecem não desanimar diante do horizonte de incertezas e obstáculos que surgem à frente. A paixão é nosso leme", garante o jovem sergipano.

Diariamente Luan Loureiro se dedica aos animais do Oceanário de Aracaju                    Foto: Instagram Luan Loureiro
Nesta imagem, Luan verifica se uma tartaruga está engasgada. Ufa! Por sorte, era apenas um cochilo 
Foto: Pedro Antônio de Oliveira
Tartaruga em um dos tanques do projeto Tamar no Oceanário de Aracaju (SE)             Foto: Pedro Antônio de Oliveira
Foto: Pedro Antônio de Oliveira
O começo da longa jornada                                                                                                      Foto: Instagram projeto Tamar
Foto: Pedro Antônio de Oliveira
Foto: Instagram Luan Loureiro
Na imagem acima, de fevereiro de 2016, o registro do nascimento de aproximadamente 25 mil filhotes, em uma única noite, no litoral brasileiro. "Naquele dia, alcançamos a marca de 25 milhões de filhotes protegidos", orgulha-se Luan. "Nosso evento comemorativo foi realizado em quase dez estados onde as solturas foram cronometradas para ocorrerem todas ao mesmo tempo: precisamente às 17 horas."

"Vai na fé e nunca desista!" é a mensagem na foto publicada no Instagram "Orla de Aracaju", uma clara referência à batalha da tartaruguinha pela sobrevivência. Os predadores naturais e a ação negativa do homem sobre a natureza são os maiores desafios na vida das jovens guerreiras.

1.11.18

Caminando por la calle



Caminhando pela rua 
Eu te vi 
Que um dia eu me apaixonei 
De você.

Gipsy Kings

4.10.18

Evoluir


Não importa que doa:
é tempo de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo, 
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

Thiago de Mello

20.9.18

Lançamento: Convite à Escrita


Três fonoaudiólogas e uma missão: ajudar estudantes dos ensinos fundamental e médio a superar as dificuldades de leitura e escrita. Assim, Lilian kotujansky Forte, Marlene Lopes Scarpa e Regina Soga Kubota estão lançando a obra "Convite à Escrita - Material de Intervenção para Reabilitação Cognitiva na Construção da Escrita", editada pela Pulso Editorial.

Foram reunidas publicações de diversos escritores brasileiros como forma de embasar as atividades propostas. Tive o prazer de ser convidado a participar do livro com um de meus contos dedicados ao público infantojuvenil. Por isso, sou muito grato às autoras por colaborar com uma iniciativa tão bacana como esta!

Entre outros objetivos, a obra procura oferecer diretrizes para os profissionais de Saúde e Educação e demais interessados no tema, ao compartilhar ideias e estabelecer estratégias para o desenvolvimento e aprimoramento da linguagem. 

Que o livro faça muito sucesso e possa promover transformações positivas na vida de muitas crianças e jovens! 

Anote aí a data do lançamento! Dia 3 de outubro, às 19h, na Livraria da Vila, em São Paulo: Rua Fradique Coutinho, 915 - Pinheiros.


Pedro Antônio de Oliveira

19.9.18

Espelho


Existem, no entanto, várias formas de pobreza.
E há, entre todas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores:
é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos.

Mia Couto

30.8.18

Que falta


Não sejam tolos,
não falta amor - falta amar.

Caio Augusto Leite

18.8.18

Mais história


Adorava quando minha mãe trazia livros da biblioteca. À noite, deitado em sua cama, ouvia atentamente cada história. A cada página virada, aquela deliciosa sensação de imaginar e descobrir mais um trecho daquele brinquedo mágico de papel. Como é importante ler para uma criança. Como é prazeroso esse momento de ouvir alguém contando uma aventura, apreciar uma ilustração e ficar sonhando com aquele mundo de faz de conta. Ainda me lembro muito bem e com imensa saudade de uma tal "Andorinha azul". O livro era lindo!

Hoje, quando vejo um conto ou uma poesia minha publicada em algum livro, fico pensando que tudo valeu a pena. Saber que uma criança está lendo o que escrevi é imaginar que eu possa estar proporcionando a ela as mesmas sensações que senti quando eu ainda era pequeno. Em meio às obrigações pesadas de adulto, tento não perder a capacidade de sonhar. E, mesmo que de maneira ainda não ideal, procuro me dedicar a esse universo. Peço a Deus que ilumine essa minha caminhada, que possa sempre encontrar prazer em contar histórias e que as oportunidades sejam dadas a mim e a todos que levam no coração esse desejo.

Neste livro "Buriti Mais Português, 4º ano", Editora Moderna, há também um conto escrito por mim. A história é quase verdadeira. O pé de manga continua existindo. A dona Tina já foi morar com as estrelas e acho que nunca ficou sabendo dessa minha lorota. 

A mesma história foi publicada no "Buriti Plus Português, 4º ano". 
(E eu recebi um exemplar em casa, enviado pela editora!) #Amei


Pedro Antônio de Oliveira

I'm always going to be around


Carter & Cash

Tor Miller

7.7.18

Perdão

Foto: José Brito / Clique e relembre a história do menino que emocionou a internet, em 2015,
ao ser fotografado brincando com um bebê pelo vidro de um carro

Na tarde de hoje, passei pelo Café Accorde, meu cantinho, para um delicioso e tranquilo café, após um longo e exaustivo dia de trabalho. Ocupei minha mesa preferida e logo fui atendida pela dona do café, que já sabe exatamente o que eu peço todos os dias: um pão de batata com requeijão e um cappuccino gelado.

Enquanto esperava meu pedido, me perdi em minha atual leitura e só despertei quando vi um garoto de chinelos de dedo surrados entrar no local. Imediatamente percebi alguns olhares que diziam claramente que aquele garoto destoava do ambiente.

O menino, de boné puído, camiseta esgarçada e cheirando a suor, tentava vender panos de prato, os quais ninguém, dos muitos clientes, se interessou em comprar. Dei sinal para o menino se aproximar e perguntei se ele estava com fome; ele assentiu, balançando a cabeça.

Mandei que ele escolhesse o que queria comer e o que queria beber. Ele pegou seu lanche e sua Coca-Cola e, antes de sair do local, para comer sentado na calçada, passou por mim e me pediu desculpas.

Ele não me agradeceu; ele pediu desculpas. Será que ele queria se desculpar por estar ali, estragando meu “mundo perfeito” com sua fome? Eu fiquei sem palavras.

A verdade, garoto, é que sou eu quem tem que te pedir desculpas.

Você e todos os outros garotos e garotas que andam por aí vendendo balas, sacos de lixo e panos de prato, por favor, me perdoem. Me perdoem, porque eu aceito isso como algo normal.

Me perdoe, porque é sempre mais fácil comprar um sapato que custa metade de um salário mínimo do que abrir a carteira e te dar um trocado. Me perdoe, porque, quando você se aproxima do meu carro para oferecer seus produtos, eu fecho as janelas e faço um sinal negativo.

Me perdoem, porque passo mais tempo admirando o que os ricos têm do que me preocupando com o que os desafortunados não têm.

Me perdoem, porque, apesar do meu descontentamento e angústia, apesar da minha indignação e revolta e por mais que, do confortável sofá da minha sala, eu clame por ética e justiça enquanto vejo as notícias absurdas na minha TV de 56 polegadas, passado o momento de revolta, eu sigo minha vida sem tomar qualquer atitude real.

Me perdoem, por favor, me perdoem por minha falta de ética, de amor, de respeito e de humanidade.

(...)

“Falar em ética é falar em escolha individual. E falar em escolha humana é falar na nossa inescapável falibilidade no pensar e agir.” (Eduardo Giannetti)

Fefa Rodrigues

24.6.18

Pássaro das Sombras agita o Colégio Franciscano Sagrada Família

A galerinha fez perguntas e participou de uma sessão de autógrafos

Oreosvaldo, o Pássaro das Sombrase eu estivemos no Colégio Franciscano Sagrada Família, integrante da Rede Clarissas Franciscanas, para um Encontro Literário, no dia 20 de junho. As turmas de quarto ano que leram o livro do blogueiro misterioso (Editora Lê) deram um show de alegria e interatividade.

O projeto foi criado e conduzido pelo professor Heitor Lima e contou com a coordenação pedagógica da querida Sabrina Rosa. As atividades na biblioteca ainda tiveram o valioso apoio das incríveis Lindaura e Arlete, além da professora Gisely.

Foi uma tarde sensacional ao lado de uma turminha superinteligente, educada e cheia de energia positiva! Meu muito obrigado à direção do colégio, aos alunos e a todos os profissionais envolvidos no evento! Agradeço a Deus por essas oportunidades maravilhosas de estar ao lado dos leitores e compartilhar histórias!


Pedro Antônio de Oliveira

15.6.18

Ao longe


A casa da saudade é o vazio
O acaso da saudade, o fogo frio
Quem foge da saudade preso por um fio
Se afoga em outras águas, mas no mesmo rio.

Paulinho Moska e Chico César

11.6.18

Tempo de carinho


Desejar muito ficar perto
Olhar com enlevo
Ter namoro com
Inspirar e suspirar por
Acordar manso ao pensar em
Arrebentar-se de saudade.

Mario Pirata

2.6.18

SOS Vida! Dia Mundial do Meio Ambiente


Você ama e respeita o planeta em que vive? O que você tem feito para protegê-lo? Suas atitudes hoje contribuem para garantir a vida sobre a Terra? Às vezes, pode parecer que estamos perdendo a batalha pela preservação do meio ambiente. Lixo nas ruas, nos rios e oceanos. Aquecimento global, crise hídrica, poluição do ar, desmatamento, desastres ambientais e exploração predatória de recursos naturais não renováveis. A industrialização, a mecanização da agricultura e o uso de agrotóxicos também nos preocupam. Inúmeras notícias desoladoras nos levam a pensar que não há solução para tantos problemas.

Mas, acalme-se! Por toda parte, atitudes positivas tentam reverter esse quadro desanimador. Mais e mais pessoas, a cada dia, estão abrindo os olhos para a necessidade de se organizarem, buscando iniciativas que promovam a redução dos impactos negativos do homem sobre o planeta. É o despertar da cidadania e da consciência ecológica.

Com o fim do sistema feudal de produção destinada à subsistência e à troca de produtos, surge a produção em massa e em série, caracterizada pela divisão do trabalho e pela busca do lucro. É o surgimento do capitalismo. Desde então, quanto mais a humanidade aumenta sua capacidade de intervenção na natureza para satisfazer suas necessidades e seus desejos, surgem reflexões a respeito do uso dos espaços e da distribuição dos recursos. Porém, não será paralisando o consumo, necessário e indispensável à vida, que vamos resolver a questão. Precisamos questionar os excessos de nossa sociedade pós-moderna consumista e procurar conviver harmonicamente com as questões econômicas.

União
Por meio da cooperação e do diálogo, devemos unir as dimensões individual e coletiva, com o apoio de associações de bairro, cooperativas solidárias e da participação efetiva da sociedade civil organizada. Com uma educação ambiental transformadora, construiremos valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente.

Para se ter uma ideia, somente em Belo Horizonte, os garis recolhem, por dia, cerca de 2.800 toneladas de resíduos. Por ano, são aproximadamente 806 mil toneladas (mais de 115 mil caminhões lotados de lixo). Apenas as deposições clandestinas somam cerca de 85 mil toneladas de resíduos por ano, o que corresponde a 12.142 caminhões lotados de entulho.

Iniciativas
Diante desse cenário, a redução de resíduos e a coleta seletiva são exemplos a ser seguidos, bem como as hortas coletivas e a carona solidária. Vamos também reutilizar recipientes plásticos, optar por produtos que contenham menos embalagens, cobrar dos governos incentivos para as indústrias que realizam a reciclagem e parar de jogar lixo nas ruas e nos lotes vagos. Assim, aumentaremos a vida útil dos aterros sanitários.

Transformar resíduos orgânicos como restos de comida, cascas de verduras, frutas e legumes em adubo é uma ótima pedida. Utilizar receitas que reaproveitem alimentos, diminuir o uso de sacolas plásticas de supermercados e imprimir menos arquivos do computador, utilizando, de preferência, papel reciclável, não são exageros. A lista é grande!

Jamais descarte óleo na pia da cozinha. Elimine lâmpadas, pilhas, baterias e eletroeletrônicos de forma correta, por meio da logística reversa, que é quando devolvemos ao comerciante ou produtor esses produtos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos garante essa opção ao consumidor. Compre mantimentos a granel, produza bolos, biscoitos e sobremesas em casa, fugindo um pouco das opções industrializadas. Reaprenda com nossos antepassados, que cultivavam hortaliças no quintal e consumiam bebidas como leite e refrigerantes em frascos retornáveis de vidro.

A mudança somos nós! Quem aí está disposto a encarar essa missão?

5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente

Pedro Antônio de Oliveira

Oreosvaldo, o Pássaro das Sombras


Oreosvaldo é um avestruz tímido, grandalhão e meio desajeitado que, pra completar, detesta seu nome. Mas ele escreve bem e é ótimo em Literatura. Da noite pro dia, torna-se o “queridinho” da escola por conta de um misterioso blog de poesias. Mas, por enquanto, ninguém desconfia de que ele seja o célebre escritor Pássaro das Sombras. Além disso, a bicharada está se preparando pra festa do ano: o badalado aniversário da macaca Dalila. Haja suspense e emoção nesta história, que conta com muitos bichos divertidos, incluindo um porco-espinho quase vilão, o Antero, que promete tirar o sono do Oreosvaldo e do Pássaro das Sombras.

A novidade do conto é que o site do Pássaro das Sombras existe de verdade. Pra conhecer, basta acessar www.opassarodassombras.com.br.

O autor é Pedro Antônio de Oliveira. As ilustrações são do artista italiano Maurizio Manzo. Editora Lê.


Pedro Antônio de Oliveira

Uma história, uma lorota... e fiquei de boca torta!


“Só abra se quiser. Se não quiser, fique parado, olhe pro lado e dê no pé!”. 

Essa mensagem misteriosa foi encontrada em um estojo de lápis de cor, esquecido ao final da aula. O que será que ela queria dizer?

Se você tiver coragem pra descobrir, vai mergulhar em deliciosas histórias, como a do sofá xadrez, velhinho, mas tão amigo de todos naquela casa. Vai conhecer um cachorro engraçado que foi pra aula com seu dono e, por lá, aprontou das suas! Vai tentar salvar um pé de manga e, quem sabe, virar notícia de tevê!? Vai sacudir os cabelos ao som de uma banda de rock irada e se refrescar com um chup-chup geladinho, vendido pelo Guito. 

As aventuras desse livro são diversão garantida! 

O autor é Pedro Antônio de Oliveira. As ilustrações da obra são da artista plástica Adriana Camargo, da Escola Guignard.

Editora Saraiva/Formato.


Pedro Antônio de Oliveira

Metade é verdade, o resto é invenção


Na rua das Petúnias, número 22, em uma casa verde, mora o menino que anota o seu dia a dia nas páginas de um livro. Tudo o que acontece na vizinhança e em sua vida de garoto merece um olhar atento e sensível. Essa é a história de "Metade é verdade, o resto é invenção", de Pedro Antônio de Oliveira.

São crônicas do cotidiano de um menino que sabe como é bom brincar numa rua cheia de árvores, ter amigos, se divertir, criar brincadeiras, tomar banho de chuva... tudo sem medo, na mais pura liberdade. 

Ele conta como aprendeu a andar de bicicleta, como voou de balão, como criou uma tartaruga, como o galo do colega virou ensopado... Também conta do passeio de maria-fumaça, da bicicleta com motor que o primo esperto inventou, dos misteriosos vizinhos que foram embora sem se despedir, sem conhecer ninguém, e lembra com saudade de sua professora mais querida. 

Ilustrado com graça e humor por Angelo Abu, o livro traz histórias simples da meninice e faz o leitor ficar com vontade de vivê-las ou se lembrar do que aproveitou da infância.

O narrador-personagem é engraçado e tem muito bom humor, mas não é bobo, pois sabe se indignar quando vê injustiça, tristeza e piada de mau gosto.

Editora Saraiva/Formato.

Pedro Antônio de Oliveira

Valores para viver


Amor, gratidão, humildade, coragem, fé, honestidade, amizade, lealdade, delicadeza e perseverança. Que outros valores você consegue reconhecer e vivenciar em gestos aparentemente simples do dia a dia? 

Este é um livro delicioso. Eu tenho, adoro e vivo relendo! Uma leitura leve, inteligente e cheia de prazer. São quase 50 grandes autores reunidos numa mesma obra. Clarice Lispector, Mario Quintana, Fernando Sabino, Lya Luft, Carlos Drummond de Andrade e Adriana Falcão são alguns desses magos da escrita. 

Numa época em que as almas andam tão cansadas e que a sociedade parece estar se deteriorando, mais e mais, a cada instante, é também tempo de não perder a esperança e acreditar na ternura que ainda sobrevive no coração de muitos humanos.

Editora Guarda-Chuva.

Pedro Antônio de Oliveira

Vic


A personagem principal deste livro se chama Vic, filha única de Cláudia, diretora-executiva da maior siderúrgica do país. Workaholic assumida, competitiva, ambiciosa e perfeccionista, Cláudia ama aparecer em colunas sociais, dar entrevistas sobre sua carreira bem-sucedida, malhar feito louca, comer coisas verdes e cruas que mal cobrem o fundo do prato, gastar fábulas com cosméticos e mandar em centenas de homens na empresa que dirige.

Já a pobre Vic é repetente, branquela, asmática e sem jeito para esportes (a excluída das excluídas). Um dos poucos lugares no mundo onde ela se sente segura e em paz é o seu quarto, onde passa horas lendo literatura gótica e devorando manga com cebola. Ah, ela também gosta muito de banana com molho inglês e laranja com pimenta. 

A avó de Vic, Dona Mirtes, não sai de casa sem antes assistir a seu programa favorito de autoajuda,“Bom-dia com Elisinha”, para depois ficar repetindo seus conselhos para quem precisar (na avaliação dela). 

Mas como tudo ainda pode piorar, a mãe de Vic vai se casar de novo. E a vida da adolescente, que já é uma catástrofe, vai se tornar, digamos, um pouquinho assim, mais movimentada, com a chegada de um meio-irmão, surfista (por quem Duda, sua amiga de colégio, ficará caidinha), e seu vovô-garotão a tiracolo. 

História perfeita para quem curte umas tiradas engraçadas, repletas de ironia e aquele humor ácido. Confesso que já li, pelo menos, duas vezes. 

A autora é Cristiane Dantas. Ilustração: Jean-Claude. Edições SM. 

Pedro Antônio de Oliveira

1.6.18

A miragem no caminho


Perdeu-se em nada, 
caminhou sozinho, 
a perseguir um grande sonho louco. 
(E a felicidade 
era aquele pouco 
que desprezou ao longo do caminho).

Helena Kolody

Livre no tempo


Eu gostaria de desviver para trás, 
dia por dia,
para parar só naquele instante,
e nele ficar, eternamente, prisioneiro...

João Guimarães Rosa

29.5.18

Santa fé


Toda incerteza passa, 
passarinho.
Toda alegria é raça.
A coragem distrai o medo.
O sorriso abre caminhos.

Pedro Antônio de Oliveira

13.5.18

Infinito interior


Só vale morar em alguém
se não nos ausentarmos de nós.

Frei Jaime Bettega

5.5.18

Sobre viver


Da terra retiro sua gama de cores:
ocre, vermelho, ferrugem,
terracota, outono, o sol.

E pinto a alma em pinceladas grossas,
camada sobre camada,
para aguentar o peso do céu.

Roseana Murray

22.4.18

Com a missão de acender estrelas

Foto: Marcelo Santos
E se de repente todas as estrelas se apagassem dentro de nós? Estaríamos condenados à escuridão de uma vida sem sonhos? Em tempos de profundo desânimo, motivado por crises de toda ordem, o exercício de manter viva a chama da esperança parece mesmo exigir um esforço sobre-humano. Certa disso, a escritora e poeta Dora de Oliveira apressou-se em acender seu candeeiro de poemas e agora lança “Por que apagaram as estrelas?”, pela Pomar de Ideias Editora, no próximo dia 26, no Sesc Palladium. “Mario Quintana já anunciava: ´Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas’”, lembra a autora. “Por isso, o desejo de me expressar por meio de metáforas e, assim, vislumbrar, quem sabe, o renascimento interior de que tanto necessitamos.”

Dora, que já publicou “Voos diversos” (Câmara Brasileira de Jovens Escritores), em 2014, e participou de várias antologias literárias – uma delas em São Paulo e três na Itália –, conta que, há algum tempo, vem burilando os textos deste novo livro, sempre com os olhos voltados para o céu, com a avidez de quem precisa redescobrir sua humanidade. “São tentativas, quase instintivas, de responder às inquietações cotidianas, de não me tornar uma pessoa endurecida, dolorida, com medo do outro”, confidencia.

Segundo ela, o ser humano distancia-se de sua verdadeira essência ao caminhar quase sempre sobrecarregado por tarefas que se assemelham a um pesado fardo. “Quem terá a coragem de acender sua estrela, desviando o olhar da linha reta para tocar belezas necessárias e libertadoras?”, questiona. “Espero que esta leitura quebre um pouco as correntes que nos prendem.”

A poeta não nega que a escrita dos poemas represente uma catarse. “O sonho é o que nos sustenta e precisa ser alimentado numa época de desencanto”, sugere.

Dora estabeleceu para si uma rotina de produção literária. “Embora ame as tarefas do dia a dia, abandono tudo, se for preciso, e vou escrever.” Meus filhos logo compreenderam esse amor pelas palavras e me incentivam a seguir em frente.

Para fugir do temeroso efeito manada, que aprisiona, Dora revela ainda que, mesmo em seu ambiente profissional, por exemplo, encontra formas de contemplar o céu real e o imaginário, seja através do vidro da janela ou escapando até o vão livre do prédio, em dias luminosos ou nublados. “Até as nuvens conseguem refletir movimento, passagem, transposição. Até elas podem nos ensinar um caminho diferente daquele obrigatório, que nos foi prescrito como indispensável. Abracemos com vigor nossas chances”, conclui.



AGENDE AÍ

O quê: Dora de Oliveira lança o livro “Por que apagaram as estrelas?” (Pomar de Ideias Editora, 64 páginas, formato 11cm x 18 cm)
Quando: Nesta quinta-feira, dia 26/4, a partir das 19h
Onde: Sesc Palladium, foyer da Av. Augusto de Lima, 420 – Centro | Belo Horizonte | MG

“Neste livro Dora cumpre a função do artista verdadeiro, que observa o mundo, o traduz com as peculiaridades de seu espírito e devolve suas impressões a outros, como um náufrago que pacientemente engarrafa mensagens a destinatários desconhecidos.” 
Fernando Righi, jornalista e músico

“Os dias áridos, aqueles em que somos forçados a viver segundo o preceito ocidental de sobrevivência e competição, não podem ser capazes de anular em nós o prazer da vida. “Por que apagaram as estrelas?”, de Dora de Oliveira (Pomar de Ideias Editora), convida o leitor fatigado a olhar mais para o alto, na tentativa de redescobrir tudo aquilo que dá sabor e sentido a nossa existência, e que, por motivos diversos, pode ter ficado perdido. A obra é um clamor lírico contra o turbilhão de urgências desnecessárias que sufocam e empanam o brilho de ser livre e feliz.”
Pedro Antônio de Oliveira, jornalista e escritor

11.4.18

Que brilha


Sem foguetes nem balões,
 carros alados ou corcéis.
É com o coração 
que se alcança sua estrela.

Pedro Antônio de Oliveira

28.3.18

Renovação


Vai fazer falta um bom outono
depois de um verão tão longo.
O verde está secando
e o vento sul se demora,
mas eu sigo esperando
que cheguem cantando
a chuva e minha hora.

Silvio Rodriguez