Seus olhos não eram assim os de uma vilã. E sua voz meio adocicada fazia cócegas nos meus ouvidos. Tão gostoso que me dava vontade de ouvir tudo o que ela queria me dizer. Não importa quanto tempo isso levasse. Pena que alguns vazios não se curam com música.
Não conseguia sentir raiva dela. Só um pouquinho de assombro. Ela me apareceu num dia triste. Acho um absurdo os dias tristes se parecerem com dias de verão, de céu azul e sol luzindo. Dias tristes deveriam ter, no mínimo, temporal com raios, vento gelado e pessoas metidas em suas casas.
Saudade era uma menina. O nome dela não era Verônica, nem Catarina nem Carolina. Era Saudade.
– Se você achar estranho, pode me chamar de Aluana – ela sugeriu.
– Aluana?
– Hum-hum. É uma mistura de A Lua + Ana. Sempre achei bonito.
Eu disse para Saudade ou Aluana que ela era cruel, esbanjando aquele sorriso todo num dia em que eu não estava bem. Ou era deboche? Mas falei isso sem mágoa porque ela possuía um frescor que ia muito além do balanço que tinha nos cabelos.
– Eu não sou malvada. Veja! Eu pareço um monstro?
O pior é que não parecia mesmo. Linda, nem ruiva nem morena, apenas uma menina.
– Garoto, deixa de ser bobo. Vou te mostrar uma coisa que você vai amar.
– Garoto? Eu já sou um adulto. Não sou mais menino.
– Você está enganado.
– Não, não estou não. Olhe pra mim.
– Estou olhando, ora!
– Então, não vê que já sou velho, que já vivi uma porção de histórias tristes?
Aluana tirou de sua bolsinha prateada um espelho, que ficou gigante de repente.
– Observe você mesmo. É assim que você é.
Minha surpresa foi tão grande que só faltei desmaiar.
– Me diga com o que se parece? Com um vovô gagá?
Incrível, minha aparência era a de um garotinho. Um menino de sete, oito anos...
– Mas eu não sou essa criança aí.
– Pare com isso. Não sou eu quem está dizendo. É você quem se vê agora neste espelho – advertiu Aluana.
– Tem razão. Eu virei um menino – concordei.
– Errado. Você sempre foi esse menino.
Pedro Antônio de Oliveira