
Queria tanto que fosse ele. Meu coração saltou aqui na boca! Ele existe, eu sei disso! Eu nunca tive uma gota assim de dúvida. É claro que não sou bobo nem nada de ficar acreditando nesse bando de impostores metidos a Papai Noel e que invadem a cidade nesta época do ano: barriga de mentira, saco de mentira, gargalhada de mentira! Tudo de mentira! O verdadeiro não fica por aí dando sopa, não! Ah, não fica mesmo! Ele tem mais o que fazer! Só deixa o Pólo Norte na noite de Natal e olhe lá!
Que era especial, isso era! Veio ao meu encontro andando bem devagar. Surgiu de um modo misterioso, que nem faria o genuíno senhor Noel. Me olhou com a intimidade de quem me conhecia há milênios. E se inclinou com dificuldade para falar bem baixinho no meu ouvido: “Oi, como vai você?” Levei um susto, mas um susto!... Depois perguntou (do jeitinho que o Papai Noel original perguntaria): “Neste Natal, você quer ganhar o quê?”
Uaaauuu!... Só podia ser ele mesmo! O autêntico! O próprio! O real! Foi direto ao assunto. Não ficou rodeando, me oferecendo balas e sorrisos, muito menos olhou pros meus pais primeiro, querendo agradar ou fingir cara boa. Dava a entender que estava com pressa, só precisava saber mesmo o que eu estava a fim de ganhar no Natal.
Na hora fiquei um pouco com vergonha de dizer ali, no meio do shopping, uma coisa assim tão íntima, tão confidencial... Ora, o presente que a gente quer ganhar só se fala pra mãe, pro pai e pro Papai Noel de verdade! E se não fosse ele? Achei melhor não arriscar! Só que acabei contando tudo sem ter certeza absoluta de sua identidade: “Uma bola de futebol e um disco do Balão Mágico”. Que raiva! Ai, que mico, que mico, que mico! Minha cara queimou! E se eu estivesse diante de mais um dos milhares de falsos Noéis que vivem abusando da confiança das pobres criancinhas iludidas?
Peraí!!!... Um detalhe me chamou a atenção! As luvas dele eram muito sujas! O verdadeiro Papai Noel jamais calçaria luvas tão encardidas (A menos que tivesse trocado os pneus do trenó!)! Decepção! “Ainda não foi dessa vez”, pensei! Será que, um dia, teria a sorte de estar diante do legítimo Noel?
Ele foi embora, depois de plantar uma pulga enorme e cabeluda atrás da minha orelha esquerda. Aquele Papai Noel duvidoso tinha tudo pra ser um Papai Noel cem por cento verdadeiro. Mas e as luvas? Alguém me explica se o bom velhinho pode ter umas luvas imundas daquelas? No Pólo Norte, por acaso faltam água e sabão?
Algumas explicações sobre as luvas sujas do Noel
1 – Já sei! Só o Papai Noel original cumprimentaria todos os meninos e todas as meninas do planeta. De tanto pegar nas mãos das crianças, ele ficou com as luvas imundas! Dúvida: se ele não sai de casa pra nada (somente na noite de Natal), como pode ter cumprimentado tanta gente?
2 – Talvez, se ele estivesse de luvas limpas, branquinhas, seria facilmente reconhecido pelas crianças e nem conseguiria andar livremente pelo shopping. Porque aí, sim, a molecada iria ter certeza de quem ele era. Ia ter gente demais pedindo autógrafo, foto, presente...
3 – O Papai Noel ainda não conhece aquele famoso ditado: “Uma mão lava a outra”.
4 – Nenhuma das alternativas acima.
5 – Todas as alternativas acima.
6 – Vou pensar (que agora me deu um nó na cabeça!). Hohohohohohohoho! (risada de Papai Noel)
PEDRO ANTÔNIO DE OLIVEIRA