23.1.18

Ainda estamos juntos


Alguém pode morar para sempre no nosso coração, mesmo não estando mais aqui com a gente, na Terra. É a pressa, a correria, a rotina agitada que vão matando as pessoas especiais dentro de nós. Com o tempo, a gente nem se lembra mais da voz, do sorriso, do jeito da pessoa... enfim!... de que aquele alguém tão importante um dia existiu. Isso não é péssimo!?

Numa tarde dessas, abri uma caixa de retratos antigos. E lá estavam minha avó, minhas tias, um tio superquerido, primos amados... Todos já se foram, deixando para trás um vazio enorme. Minha tristeza maior foi perceber que a loucura do dia a dia estava apagando aqueles rostos da minha memória, como se eles nunca tivessem feito parte da minha vida.

São tantos afazeres, tanta bugiganga que a gente carrega e persegue, que fica difícil reservar um tempinho só para recordar quem passou pela nossa história. Será que essa agitação que bagunça nossa vida já não é uma desculpa, um modo inconsciente de fugir, não encarar a realidade, não enxergar as perdas, não reunir os pedaços da gente que foram ficando pelo caminho?

Em algum lugar, alguém nos observa e continua nos amando. Pense nisso.

Pedro Antônio de Oliveira

Decifra-me


E eu viajei sobre os telhados das casas como faço todas as noites. Pessoas e bichos dormiam, sem desconfiar de nada. Somente os olhos bem acesos das estrelas, cintilantes como reflexos de sol no orvalho, miravam minha silhueta transparente na madrugada fria.

Abri os braços como se eu fosse um querubim. E, no fundo, quem sabe eu era, todo azul na minha imaginação, atirando flechas incandescentes sobre o sono da cidade.

Soprei segredos, palavras mágicas, repletas de códigos, e acordei sonhos antigos, quase esquecidos.

E antes de o dia clarear, minha missão estava cumprida. Voltei para meu quarto para seguir minha vida normal, praticamente invisível também, e, em seguida, caminhar pelo mundo como alguém comum, mais um filho de Deus.

Mas, na próxima noite...

Pedro Antônio de Oliveira

12.1.18

Ao relento

 
No olho da rua, a verdade é nua, crua, abusada. No olho da rua, não se esconde nada, não se tem cantos, gavetas, alçapões, caixas pretas ou velhos porões debaixo da escada. Sem esconderijo atrás da cortina, apenas os passos que pisam esquinas, amassam saudades na pedra molhada.

Flora Figueiredo

6.1.18

Poema inesperado


(...)

 Que eu possa 
cada vez mais desaprender 
de pensar o pensado 
e assim poder 
reinventar o certo pelo errado.

Ferreira Gullar

4.1.18

Sempre no coração, haja o que houver


Ai, como eu gosto dessa música. A letra, a melodia... Tudo acontece na medida certa. Milton Nascimento é fascinante, genial. Alguns artistas atravessam o tempo sempre atuais, sempre surpreendentes. As novas gerações deveriam reservar um tempinho para conhecer músicos como o Milton, ou Bituca, como ele prefere ser chamado, uma vez que as rádios quase não dão mais espaço a essas obras-primas. Uma pena, né!? Precisamos tanto de poesia, leveza, sensibilidade, beleza mesmo! Essa é a palavra. É o que alimenta nossa alma. Pobre de mim se não houvesse poemas como as canções de Milton Nascimento. Querido Milton, obrigado! 😁

Ah, não deixe de conferir a entrevista logo abaixo. Simples e elegante nosso Milton.


Pedro Antônio de Oliveira