Pena que passou rápido!
Muito obrigado à direção, à supervisão pedagógica, ao setor de biblioteca, à informática (que deu uma forcinha!), aos professores e aos alunos do Colégio Santo Agostinho! Um abração!
De repente, um vírus surge e se espalha rapidamente pelo mundo inteiro. Eu não tinha a real noção do que estava acontecendo até receber a notícia de que, no dia seguinte, eu teria que trabalhar em casa, obrigatoriamente, sem prazo para retorno presencial.
Eu me lembro bem do susto causado pelo vírus ebola, na África, da gripe suína que alcançou dezenas de países, incluindo os Estados Unidos, provocando muitas mortes no México. Não posso me esquecer também da epidemia de cólera no Brasil, no início dos anos 1990, quando passei as férias no Rio de Janeiro e quase tomávamos banho (meus primos e eu) com água mineral, por medo de contaminação (e excesso de zelo dos adultos). Caixas com vidros vazios de água se acumulavam na calçada do prédio onde ficamos hospedados.
Mas nada se compara ao terror do coronavírus, que nos deixou isolados, amedrontados, indefesos, de máscara (escondendo nosso sorriso); em alguns momentos, sem esperança diante dos milhares de mortes noticiados diariamente no país. Vale lembrar que o Brasil chegou a registrar em março de 2021, em apenas 24 horas, mais de 3.100 óbitos. Uma tristeza, uma catástrofe.
Após semanas e meses tão sombrios, a luz, o alento, a vacina! Impossível não se emocionar diante da perspectiva (mesmo que distante ainda) de voltar à vida normal.
Tudo ficou bem diferente na minha rotina. Assumi inúmeras tarefas que antes não eram minhas por permanecer quase todo o tempo fora de casa, trabalhando. Para proteger meus pais, passei a realizar todas as compras e resolver o que fosse preciso, de maneira a evitar que saíssem às ruas. Amadureci bastante diante de um novo desafio, o de me tornar pai dos meus pais, de higienizar tudo o que chegava, de auxiliar minha mãe com a panela de pressão, de fazer caminhada com meu pai como meio de disfarçar a prisão que impus a ele. (Engraçado que sempre sonhei em passar mais tempo com eles, de estar em casa à tarde, como nos tempos de criança, de não ter que me deslocar todo dia para o trabalho, enfrentando trânsito... Não pensei que iria vivenciar essa experiência, só que de um jeito mais angustiante, menos prazeroso.)
Foram incontáveis situações inusitadas (as quais não vou narrar aqui) como, por exemplo, blindá-los de visitas de familiares nos períodos mais críticos da pandemia e passar horas vendo filmes, séries e vídeos do YouTube para distraí-los, já que a tradicional programação da TV aberta se tornou ainda mais enfadonha e repetitiva com as reprises das novelas que minha mãe sempre fez questão de acompanhar.
Com tudo isso, comecei a experimentar a brincadeira de produzir alguns vídeos para o YouTube. Horríveis, na minha avaliação, em virtude da pressa, da falta de ânimo e da destreza que perdi por passar anos sem gravar coisa alguma.
Mas está aí o registro da minha primeira dose de vacina contra a covid-19. Na pressa, esqueci o apoio da câmera e fui filmando heroicamente com uma das mãos e dirigindo também com apenas uma delas, o que não recomendo a fazer por se tratar de um ato incorreto em termos de segurança no trânsito.
Perdi a timidez e decidi postar aqui essa alegria como forma de agradecer a Deus a oportunidade de estar vivo, de receber a vacina, e homenagear todos os profissionais que tornaram possível esse dia. Aos cientistas, médicos, enfermeiros, técnicos, todas e todos os envolvidos, o meu muito obrigado, minha gratidão, meu reconhecimento e minhas preces de proteção.
Que a gente aprenda algo útil e libertador, que haja um significado maior de evolução por trás disso tudo, que possamos enxergar além da materialidade um novo caminho, uma saída para nossas trapalhadas como seres humanos e nos tornemos espécies melhores. Há muito chão pela frente, eu sei. Basta ler os jornais e portais, e constatar ainda tanta desumanidade, tanta destruição da natureza, tanta escravidão de animais e humanos, tanta atrocidade. Quanta falta de bom senso. Quanta ausência de amor.
Mas não percamos a fé e a vontade de sermos um dia, de fato, centelhas de luz nesse mistério todo, que é a nossa existência no universo.
Um abraço a todos e todas. Continuem se cuidando. O meu carinho por sua presença e por sua leitura. Assista aos vídeos. Faça também. Passe a registrar os dias especiais porque a vida, a vida é tão rara.
Pedro Antônio de Oliveira
Durante esta pandemia, comecei a rastrear os aviões no céu. Toda tarde, caminhando entre os muros da minha casa, me habituei a seguir aqueles pássaros de ferro por meio de um aplicativo. Então descubro de onde vêm e para onde estão indo. Se vão viajar para muito longe, se trazem alguém de volta pra casa.
Fico imaginando as pessoas lá dentro com suas histórias, seus sonhos, suas tempestades e alegrias. Fico querendo também ganhar a liberdade, abrir as asas, deixar as preocupações de lado, encontrar meus amigos, abraçar de novo, sorrir, sentir o vento atrapalhar meus cabelos, o sol dourar meu rosto e aquecer minha esperança.
Tão bonita a vida, tão preciosos os encontros, tão necessário o afeto. Quando foi que começamos a nos perder? Se seguirmos a fumacinha branca daquele avião, encontraremos de novo o paraíso do qual um dia fomos expulsos?
Em tempo: Hoje minha cidade decidiu fechar todo o comércio não essencial outra vez. Agora o perigo do tal vírus ameaça as crianças. Há várias internadas e outras na fila de espera. Estou me sentindo triste.
Pedro Antônio de Oliveira
Frase de um cartaz colado nos muros de Paris em maio de 1968