31.12.23

Feliz 2024 com os pés no chão

Precisamos lutar pela vida das crianças

É impossível não dizer que a virada do ano tem muito a ver com as crianças e os adolescentes, pois será deles este mundo que os adultos de hoje insistem em destruir


Qual a relação entre a virada do ano, as crianças, o céu ou o inferno? Nada e tudo. Sim, parece contraditório, mas não é.

A cada ano que se passa, renovamos nossas já combalidas esperanças de que tudo vai ser diferente ou melhor. Fazemos todas aquelas coisas como comer lentilha, 7 grãos de uva e pular ondas na praia. Isso para os que podem comer e para aqueles que vivem na praia ou passam o final de ano lá. Fazemos isso na busca de algo que nos ajude, ainda que sejam crendices, a reforçar nossa fé avariada nas instituições, nos homens e na continuidade do nosso planeta.

Trata-se, portanto, de indagar se teremos um futuro e quem estará nele, vivendo e tomando-o em suas mãos. Neste caso, é impossível não dizer que a virada do ano tem muito a ver com as crianças e os adolescentes, pois será deles este mundo que os adultos de hoje insistem em destruir. Mas, se não pensarmos seriamente sobre isso e ignorarmos o momento atual, é evidente que a virada nada representará nem para as crianças e adolescentes nem para nós mesmos, muito menos para o futuro da humanidade.

Precisamos começar a agir. Façamos isso agora, na virada do ano. Temos que nos engajar, unindo forças com milhares ou milhões de outros seres humanos, pois não estamos sozinhos. São milhões de pessoas que, como nós, pretendem tornar o mundo um lugar habitável para nossas crianças. Elas são o futuro, mas são também o presente – e, por isso, não podemos mais negligenciar essas vidas.

Para tanto, temos de nos unir e exigir o fim das guerras, consumidoras de recursos e esforços que, se fossem aplicados corretamente, poderiam acabar com a fome e a morte de milhões de seres humanos por doenças de toda ordem. Dezesseis mil crianças morrem de fome a cada dia no mundo. E, no cenário brasileiro, 44% das mortes de crianças por doenças poderiam ser evitadas facilmente.

Precisamos pressionar o Estado a cumprir seu papel, na busca de soluções para o aquecimento global, a fome, as doenças, além de fatores como desemprego, baixos salários, educação de qualidade, saneamento, entre outras medidas factíveis e urgentes para legarmos aos nossos pequenos um mundo habitável. Mais do que crendices que nos conduzem a falsas esperanças, precisamos de ação, proatividade e poiesis.

É isso ou inferno, apesar de muito preferirem o céu, a lentilha, as uvas e a praia, é claro.

Mauricio Ribas

Advogado, professor de Direito Civil e membro da Anistia Internacional. É autor de “Ingel Addae – A luta entre o bem e o mal”, livro para acolher crianças vítimas de violência e conscientizar sobre os direitos da infância

(artigo de opinião publicado no Jornal Estado de Minas de 30/12/2023)

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