Foto: José Brito / Clique e relembre a história do menino que emocionou a internet, em 2015, ao ser fotografado brincando com um bebê pelo vidro de um carro |
Na tarde de hoje, passei pelo Café Accorde, meu cantinho, para um delicioso e tranquilo café, após um longo e exaustivo dia de trabalho. Ocupei minha mesa preferida e logo fui atendida pela dona do café, que já sabe exatamente o que eu peço todos os dias: um pão de batata com requeijão e um cappuccino gelado.
Enquanto esperava meu pedido, me perdi em minha atual leitura e só despertei quando vi um garoto de chinelos de dedo surrados entrar no local. Imediatamente percebi alguns olhares que diziam claramente que aquele garoto destoava do ambiente.
O menino, de boné puído, camiseta esgarçada e cheirando a suor, tentava vender panos de prato, os quais ninguém, dos muitos clientes, se interessou em comprar. Dei sinal para o menino se aproximar e perguntei se ele estava com fome; ele assentiu, balançando a cabeça.
Mandei que ele escolhesse o que queria comer e o que queria beber. Ele pegou seu lanche e sua Coca-Cola e, antes de sair do local, para comer sentado na calçada, passou por mim e me pediu desculpas.
Ele não me agradeceu; ele pediu desculpas. Será que ele queria se desculpar por estar ali, estragando meu “mundo perfeito” com sua fome? Eu fiquei sem palavras.
A verdade, garoto, é que sou eu quem tem que te pedir desculpas.
Você e todos os outros garotos e garotas que andam por aí vendendo balas, sacos de lixo e panos de prato, por favor, me perdoem. Me perdoem, porque eu aceito isso como algo normal.
Me perdoe, porque é sempre mais fácil comprar um sapato que custa metade de um salário mínimo do que abrir a carteira e te dar um trocado. Me perdoe, porque, quando você se aproxima do meu carro para oferecer seus produtos, eu fecho as janelas e faço um sinal negativo.
Me perdoem, porque passo mais tempo admirando o que os ricos têm do que me preocupando com o que os desafortunados não têm.
Me perdoem, porque, apesar do meu descontentamento e angústia, apesar da minha indignação e revolta e por mais que, do confortável sofá da minha sala, eu clame por ética e justiça enquanto vejo as notícias absurdas na minha TV de 56 polegadas, passado o momento de revolta, eu sigo minha vida sem tomar qualquer atitude real.
Me perdoem, por favor, me perdoem por minha falta de ética, de amor, de respeito e de humanidade.
(...)
“Falar em ética é falar em escolha individual. E falar em escolha humana é falar na nossa inescapável falibilidade no pensar e agir.” (Eduardo Giannetti)
Enquanto esperava meu pedido, me perdi em minha atual leitura e só despertei quando vi um garoto de chinelos de dedo surrados entrar no local. Imediatamente percebi alguns olhares que diziam claramente que aquele garoto destoava do ambiente.
O menino, de boné puído, camiseta esgarçada e cheirando a suor, tentava vender panos de prato, os quais ninguém, dos muitos clientes, se interessou em comprar. Dei sinal para o menino se aproximar e perguntei se ele estava com fome; ele assentiu, balançando a cabeça.
Mandei que ele escolhesse o que queria comer e o que queria beber. Ele pegou seu lanche e sua Coca-Cola e, antes de sair do local, para comer sentado na calçada, passou por mim e me pediu desculpas.
Ele não me agradeceu; ele pediu desculpas. Será que ele queria se desculpar por estar ali, estragando meu “mundo perfeito” com sua fome? Eu fiquei sem palavras.
A verdade, garoto, é que sou eu quem tem que te pedir desculpas.
Você e todos os outros garotos e garotas que andam por aí vendendo balas, sacos de lixo e panos de prato, por favor, me perdoem. Me perdoem, porque eu aceito isso como algo normal.
Me perdoe, porque é sempre mais fácil comprar um sapato que custa metade de um salário mínimo do que abrir a carteira e te dar um trocado. Me perdoe, porque, quando você se aproxima do meu carro para oferecer seus produtos, eu fecho as janelas e faço um sinal negativo.
Me perdoem, porque passo mais tempo admirando o que os ricos têm do que me preocupando com o que os desafortunados não têm.
Me perdoem, porque, apesar do meu descontentamento e angústia, apesar da minha indignação e revolta e por mais que, do confortável sofá da minha sala, eu clame por ética e justiça enquanto vejo as notícias absurdas na minha TV de 56 polegadas, passado o momento de revolta, eu sigo minha vida sem tomar qualquer atitude real.
Me perdoem, por favor, me perdoem por minha falta de ética, de amor, de respeito e de humanidade.
(...)
“Falar em ética é falar em escolha individual. E falar em escolha humana é falar na nossa inescapável falibilidade no pensar e agir.” (Eduardo Giannetti)
Fefa Rodrigues