23.2.19

Sobre o muito que há


Quando nos agarramos muito forte às nossas crenças, 
corremos o risco de ficar cegos para a realidade 
e enxergar apenas o que se encaixa nelas.

Haemin Sunim

18.2.19

Cada dia que sou


Quando estou feliz,
desenho um sorrisão com giz.

Se estou calado,
me deixe na lua dependurado.

Coração por um triz...
Epa! "Menino apaixonado"
escrito bem assim, 
na ponta de uma estrela.

Pedro Antônio de Oliveira

17.2.19

As jabuticabas



Estavam tão maduras que foi impossível resistir. Entrei no quintal vizinho, pulando a cerca. Quase deixei presa parte da minha cabeleira no arame farpado. Diziam que a dona da casa era meio surda, mas não sei não... Logo que percebeu uma movimentação estranha, a senhora apareceu ventando, armada com uma grande vara de bambu, certa de que havia algum aventureiro rondando sua preciosa jabuticabeira. E não demorou para que eu fosse pego com a boca na botija, dependurado em um dos galhos da árvore.

Quanto mais tentava me cutucar com aquele objeto pontiagudo, mais eu subia pela copa da árvore. A ousadia já estava se tornando bastante arriscada. Meu braço ficou um pouco esfolado na perigosa escalada rumo ao tesouro proibido. Consegui encher uma sacola imensa com jabuticabas. E antes que a senhora pudesse botar as mãos em cima de mim, pulei no chão como um felino, e corri com a habilidade de quem já está habituado a situações delicadas. Escapei pelo quintal do outro lado.

Retirei algumas da sacola e embrulhei tudo em papel de pão. Em seguida, fui para a escola. Já tinha merenda garantida para o dia. Apesar de tudo, eu me senti com sorte.

No meio da aula, me bateu uma vontade incontrolável de experimentar só umas, uminhas! Para que esperar o recreio? Eu me sentava no fundo da sala, um ótimo esconderijo para um lanche fora de hora ou qualquer outra travessura de nível médio.

Mas que pena. O papel se rasgou de repente, fazendo rolar pela sala as preciosas e suculentas jabuticabas. Foram chegando, uma a uma, devagarinho, até o quadro, onde a professora ensinava Matemática. Rolaram espertas e cobertas de poeira do assoalho. Uma cena curiosa e engraçada, se não fosse triste. A aula parou e todos assistiram, surpresos, àquele festival de bolas de gude negras e embaçadas de sujeira do chão da escola.

Eu já devia saber que não existe mesmo crime perfeito.

Pedro Antônio de Oliveira

14.2.19

Para acreditar


Não desanime, pequena estrela.
Não se apague na entrada da manhã.
O universo é belo e intenso.
E, sobre nós, brilha uma luz, que não está sozinha. 
São milhões de afetos, 
pequeninos, honestos, 
capazes de superar, todos os dias, a fria imensidão das coisas
que ainda não compreendemos.
Tudo isso porque o amor existe.
Apesar de tudo,
e sobretudo
a ilusão
vive,
para nos salvar.

Pedro Antônio de Oliveira

12.2.19

"Toca o barco"

Foto: Divulgação Band
Quando era mais novo, ouvia muito rádio. Sempre gostei muito das rádios de notícia e ficava alternando entre BandNews e CBN. Naturalmente, como tantos outros, acostumei-me com a voz de Boechat e com sua perspicácia e inteligência. Jamais imaginaria que, anos depois, conversaria com ele ao vivo em algumas ocasiões, como em Janaúba e agora em Brumadinho, poucos dias atrás.

Os últimos acontecimentos têm mostrado que a vida é mesmo fugaz. Vamos e deixamos as contas por pagar, as consultas agendadas sem desmarcar e o vizinho sem resposta sobre a possibilidade de empréstimo da churrasqueira. Que possamos demorar no beijo matinal, que possamos reparar diariamente no detalhe do outro, que o milagre dos encontros não programados possam ser perceptíveis à nossa rotina tão acelerada para que, quando formos, as únicas pendências sejam as tolices burocráticas cotidianas que confundem nosso senso de prioridade.

E que as pessoas possam trabalhar com amor e assim deixar um legado de inspiração bonito como você deixou, grande jornalista. Que mais essa dor em um ano tão difícil seja dividida em tantos corações quanto aqueles que te ouviam para seguirmos em frente.

Meus sentimentos aos familiares e amigos de Ricardo Boechat e do piloto Ronaldo Quatrucci, em especial aos estimados amigos do Grupo Band.

Pedro Aihara
(Tenente do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais)

Tomei a liberdade de compartilhar o texto desse jovem e competente porta-voz do Corpo de Bombeiros. Sou um admirador desse grande profissional que, com firmeza e serenidade, vem conduzindo sua bonita missão aqui na Terra. Sem dúvida, é um ser de luz amenizando a dor de tantas famílias. O depoimento acima foi reproduzido de sua conta no Instagram. 


A respeito do jornalista Ricardo Boechat, só tenho a dizer que sua morte representa uma inestimável perda para todos nós que apreciávamos seu trabalho, sempre elegante, inteligente e crítico. A ele e ao piloto, nossas orações. Às famílias e aos amigos, nossas sinceras manifestações de carinho.

Boechat, obrigado por ter cumprido tão bem seu propósito de vida neste planeta. Obrigado por ter denunciado e lutado por dias melhores para todos os brasileiros, dentro de seu campo de atuação. Obrigado por não ter sido omisso e ter nos concedido informação de boa qualidade e um humor refrigerante em tempos de dor, desumanidades e injustiças.

Pedro Antônio de Oliveira

9.2.19

O renascer

Cão salvo da lama em Brumadinho, Minas Gerais, após o rompimento da barragem da Mina do Feijão
Foto: Reprodução portal Jardim Animal

Haverá um dia em que todas as nossas ações estarão alinhadas com a Lei do Amor. Por enquanto, ainda prevalece, para muitos, a Lei do Dinheiro. Talvez, seja por isso que caminhamos atordoados, sem paz.

É como se nossas buscas não nos levassem para um lugar seguro, de felicidade. Achamos que toda alegria, toda realização, todo sucesso só podem ser conquistados de forma material e por meio do dinheiro. Mas, em nossa jornada, aos poucos temos percebido que nem tudo "Vale" a pena em nome dele.

Estamos cansados, repensando nosso modo de viver e de ser. Pode ser o início de uma mudança radical em nossos valores e o começo de um tempo mais humano, em que o amor seja, sim, a mais valiosa moeda.

Pedro Antônio de Oliveira

Mudança


Em vez de ficar jogando lixo nas ruas, plante uma árvore.
Em vez de ficar pichando paredes, escreva um poema de amor e o envie secretamente, numa carta, a alguém que você ama.
Em vez de acelerar com seu carro pelas ruas, colocando em risco sua vida e a de outros, vá de bicicleta, sentindo o vento no rosto.
Em vez de gastar seu tempo com discussões e ataques banais na internet, vá ler um livro.
Em vez de ser preconceituoso e violento, corra até o espelho e olhe para si mesmo. Mas olhe bastante, olhe muito, a ponto de mergulhar dentro de você e conseguir explorar cada centímetro de sua personalidade. Faça uma autocrítica, recicle-se. Reinvente-se, renasça. Ilumine. O mundo anda cansado de tanta estupidez. O mundo quer luz. Talvez você tenha alguma centelha de amor para oferecer. Posso apostar que sim. :)

Pedro Antônio de Oliveira