29.12.18

Um abraço


Tenho sorte de ter olho para o encanto. De ver imagens nos estuques das paredes do muro. De ver o portal que dá lugar para minhas emoções esparramadas na grama verde e de poder viver o lambeijo dos meus cães quando deito no chão. De enxergar coração em tudo que é coisa. 

Tenho sorte porque lá fora, para além dos instantes de encanto, o mundo está de ponta-cabeça e não sei se você gostaria de vê-lo como se apresenta hoje. Talvez, aqui, no meu lugar seja um daqueles achadouros que você criava em seu mundo. 

O meu quintal é desabitado de realidade e levo ele na bolsa sempre que saio calçadas afora para viver o mundo real e lá, quando o baque vem em grau maior, eu retiro um pequeno bocado para sobreviver. 

O mundo está moderno demais e atravessado. Então, eu busco como escape essa inteireza de criança que meu pai ainda acha que sou e com isso tento dar verbo às coisas que me rodeiam e, bem ali, no cantinho do espaço imaginário, perto das lanternas chinesas, eu te abraço e agradeço pela inspiração que me ofereceu diante da palavra e, tentando entender a cor dos pássaros, faço o verbo esperançar renascer cada vez mais dentro de mim.

Mariana Gouveia

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